sexta-feira, 23 de maio de 2014

Descobri eu e você

a saudade é apertada,
a garganta, nem se fale, totalmente, fechada
mas o peito tá aberto, e não tem hora pra fechar
pode vir, chega mais perto, tem um lugar pra você se deitar

o amor também se cobre quando chove
e também chove amor em quem se descobre
descobre eu, e descobre a si mesma
que a gente se invente, antes que você se esqueça
que a gente se encontre, antes que desapareça
que o amor se cubra da gente até onde puder,
e que a gente se cubra de amor, até quando não couber

meu bem, tenho andado em um estado de puro torpor
se cobre de mim, e do meu amor
eu te descubro, a cada segundo
deito em você, e viajo o mundo.


terça-feira, 20 de maio de 2014

Vários choques simultâneos de realidade cronologicamente narrados

Aos 4 anos eu dançava axé com meus primos na varanda da casa da minha avó. Aos 9 eu dançava na escola o que quer que as meninas estivessem ouvindo, aos 14 eu não dançava nada. E aos 18 eu não dançava por imaginar que tinha tomado vergonha na cara. Aos quase vinte, vejo que vergonha na cara é outra coisa, e vem sem bula nem prescrição, e danço quando o nível de substância etílica no sangue é maior que 0,06%.
Aos quase 5 eu cortei a mão com uma garrafa vidro e tomei mais de 10 pontos. Doeu, mas não como as tapas na cara da minha mãe pra aprender a ser o que a sociedade nos cobra aos 14. (Sim, é muito importante seguir os padrões impostos, principalmente nessa idade). Caso contrário, é vexatório, humilhante, e denigre tudo que seus pais um dia começaram a construir. Hoje, com quase 20, já tomei mais de 50 pontos no corpo todo remendado, e carrego comigo cicatrizes eternas, que arranjei em uma busca pela ausência de dor física.
Aos 6 eu apostei com os meninos que colocaria uma minhoca seca na boca, e engoliria uma mamona. Aos 7 eu ganhei a primeira parte da aposta, a mamona não desceu. Diferente de mil outros desaforos que desceriam garganta abaixo durante os próximos anos...
Aos 11 eu ganhei as minhas primeiras flores, e se eu soubesse o quão raras eram, e o que significavam, eu não teria pisado nelas... Muito menos jogado fora. Aos 17 eu dei flores pela primeira vez, sem ainda saber o que significavam e o quão raras eram...
Aos 15 me apaixonei pela primeira vez, e gostaria de ter lido Machado naquela época... Pois  aos 15, tudo é infinito, e comigo, não foi diferente...  Aos 19 acabo de me apaixonar de novo.
Os demais foram encantamentos com durações que variavam entre 12 horas e alguns 50 dias... Culpa de alguma maldição, ou bruxa desocupada chamada Carência. Não estou ansiosa pra próxima vez que esse evento vai ocorrer. 
Aos 4 anos eu queria ser médica.
Aos 10, veterinária.
Quase nos 20, e no meio de uma graduação de Economia, quero ser qualquer outra coisa, exceto: Economista.
Aos 13 eu sabia que nunca iria fazer as vontades de ninguém, ceder a chantagens emocionais, que jamais me acostumaria com alguém me cobrando algo que eu não quisesse fazer, ou acabaria indo embora às 23h da noite caso alguém me mandasse embora, quando notarem que o amor acabou.
Aos quase 20 eu vejo que pensar isso foi uma das maiores estupidez (dentre as tantas que já cometi), e que eu estou à deriva pra tudo. Desde dizer que “sim”, sobre um contrato social indicando ali meu pacto com o sujeito, e até mesmo, lavar roupa, quem sabe, pois é isso que as pessoas tendem a fazer para manter relacionamentos: negar, ceder, afirmar, acostumar...
Aos 14 eu queria sumir de perto dos meus pais. Aos quase 20, quero tê-los por perto sempre que possível, salvo raras exceções.
Aos 13 fumei meu primeiro cigarro. Um ano depois, fumei meu último cigarro.
Aos 17 fumei meu primeiro cigarro de novo...
Aos 7 anos eu era CDF em negrito e itálico, e tinha as melhores notas da escola. Aos 16 nem ia à escola...
Aos 14 anos quase morri, pela primeira vez. E espero que aos 50, essa tenha sido a única vez ainda... Terminei aos 15 meu primeiro relacionamento, mais rasa do que antes, e mergulhei de cabeça em alguém tão profundo, e eu nunca ansiei tanto pra que alguém me amasse de volta... E acabei aprendendo que amor não se anseia, não se pede, e também não tem bula, mas é receitado pra tudo.
Sim, foi um ano tumultuado. 

Aos 15 eu não fazia a mínima ideia do que eu queria da vida, atualmente, além disso, não faço a mínima ideia do que a vida quer de mim.