Aos 4 anos eu dançava axé com
meus primos na varanda da casa da minha avó. Aos 9 eu dançava na escola o que
quer que as meninas estivessem ouvindo, aos 14 eu não dançava nada. E aos 18 eu
não dançava por imaginar que tinha tomado vergonha na cara. Aos quase vinte,
vejo que vergonha na cara é outra coisa, e vem sem bula nem prescrição, e danço
quando o nível de substância etílica no sangue é maior que 0,06%.
Aos quase 5 eu cortei a mão com
uma garrafa vidro e tomei mais de 10 pontos. Doeu, mas não como as tapas na
cara da minha mãe pra aprender a ser o que a sociedade nos cobra aos 14. (Sim,
é muito importante seguir os padrões impostos, principalmente nessa idade).
Caso contrário, é vexatório, humilhante, e denigre tudo que seus pais um dia
começaram a construir. Hoje, com quase 20, já tomei mais de 50 pontos no corpo todo
remendado, e carrego comigo cicatrizes eternas, que arranjei em uma busca pela ausência de dor
física.
Aos 6 eu apostei com os meninos
que colocaria uma minhoca seca na boca, e engoliria uma mamona. Aos 7 eu ganhei
a primeira parte da aposta, a mamona não desceu. Diferente de mil outros
desaforos que desceriam garganta abaixo durante os próximos anos...
Aos 11 eu ganhei as minhas
primeiras flores, e se eu soubesse o quão raras eram, e o que significavam, eu
não teria pisado nelas... Muito menos jogado fora. Aos 17 eu dei flores pela
primeira vez, sem ainda saber o que significavam e o quão raras eram...
Aos 15 me apaixonei pela primeira
vez, e gostaria de ter lido Machado naquela época... Pois aos 15, tudo é infinito, e comigo, não foi
diferente... Aos 19 acabo de me
apaixonar de novo.
Os demais foram encantamentos com
durações que variavam entre 12 horas e alguns 50 dias... Culpa de alguma
maldição, ou bruxa desocupada chamada Carência. Não estou ansiosa pra próxima
vez que esse evento vai ocorrer.
Aos 4 anos eu queria ser médica.
Aos 10, veterinária.
Quase nos 20, e no meio de uma
graduação de Economia, quero ser qualquer outra coisa, exceto: Economista.
Aos 13 eu sabia que nunca iria
fazer as vontades de ninguém, ceder a chantagens emocionais, que jamais me
acostumaria com alguém me cobrando algo que eu não quisesse fazer, ou acabaria
indo embora às 23h da noite caso alguém me mandasse embora, quando notarem que
o amor acabou.
Aos quase 20 eu vejo que pensar
isso foi uma das maiores estupidez (dentre as tantas que já cometi), e que eu
estou à deriva pra tudo. Desde dizer que “sim”, sobre um contrato social
indicando ali meu pacto com o sujeito, e até mesmo, lavar roupa, quem sabe,
pois é isso que as pessoas tendem a fazer para manter relacionamentos: negar,
ceder, afirmar, acostumar...
Aos 14 eu queria sumir de perto
dos meus pais. Aos quase 20, quero tê-los por perto sempre que possível, salvo
raras exceções.
Aos 13 fumei meu primeiro
cigarro. Um ano depois, fumei meu último cigarro.
Aos 17 fumei meu primeiro cigarro
de novo...
Aos 7 anos eu era CDF em negrito
e itálico, e tinha as melhores notas da escola. Aos 16 nem ia à escola...
Aos 14 anos quase morri, pela primeira
vez. E espero que aos 50, essa tenha sido a única vez ainda... Terminei aos 15 meu primeiro
relacionamento, mais rasa do que antes, e mergulhei de cabeça em alguém tão
profundo, e eu nunca ansiei tanto pra que alguém me amasse de volta... E acabei
aprendendo que amor não se anseia, não se pede, e também não tem bula, mas é
receitado pra tudo.
Sim, foi um ano tumultuado.
Aos 15 eu não fazia a mínima
ideia do que eu queria da vida, atualmente, além disso, não faço a mínima ideia
do que a vida quer de mim.