segunda-feira, 25 de novembro de 2013

E quando é que chove você a cântaros?


As nuvens nesses dias em que a chuva vai embora, parecem desenhar rostos que eu nunca saberei interpretar. Todos têm expressões simples, e enigmáticas, e eu sempre me confundo se sorriem pra mim, ou se estes caras-das-nuvens sentem dor. Talvez as nuvens não desenhem é nada. Ora essa, nuvens não sabem desenhar. Não como você.
Mas as nuvens ao menos, me entendem. Elas me ouvem, como se ouvissem uma melodia. As vezes a melodia soa um tanto perturbadora, e as nuvens fogem um pouco. Vão mais pra lá, onde eu não consigo enxerga-las, mas acho que ficam curiosas com o final da história e acabam voltando. Ou talvez as nuvens nem me ouçam, com essa distância imensa dos ouvidos da troposfera até minha boca, ou talvez eu seja desinteressante. Ora essa, nuvens não tem ouvidos e tampouco foram feitas pra ouvir. Nuvens não se interessariam em mim, não como você.
Mas não importa nada disso, pois as nuvens aparecem nos meus sonhos, mesmo quando não chove. Mesmo quando eu estou acordada - desde pequena cultivo esse hábito de sonhar acordada. Disseram-me ser prejudicial a cabeça, talvez seja mesmo, talvez não, também me disseram que usar desodorante aerossol era prejudicial ao meio ambiente,  e que só amamos uma vez na vida. – Mas penso com bastante frequência nas nuvens.  Não como em você. 

Poderia viver nas nuvens, mas não seria o mesmo que viver em você. As nuvens não tem braços que me abraçam, e me fazem sentir em um ninho. Não mesmo, as nuvens não me aninhariam. Aliás, nuvens são feitas de algodão, algodão não aninham ninguém.

Nuvens não recitarão poesias pra mim, e se recitarem, logo eu, que não consigo desvendar nem suas expressões, será que serei capaz de entender a língua das nuvens como entendo tua língua mesmo calada? Leio cada palavra que você gostaria que saísse de sua boca, em seus olhos, e meu Deus, este dialeto que só nossos olhares conhecem, não, eu nunca teria isso com as nuvens.
Mas as nuvens chovem em mim, quando eu estou com saudades. Por que você não se chove toda em mim, nesses dias nublados e cinzentos, ou nos azuis e ensolarados de surpresa?
 



Eu juro que eu não pego o guarda-chuva, mesmo com a certeza de que iria chover a cântaros, alagando tudo de você. Alegrando tudo com você.


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