sexta-feira, 28 de junho de 2013

No pé o céu de um parque a nos testemunhar... Acabar.


Eu acho que ninguém nunca soube falar ao certo qual o gosto que o amor tem. Mas sei que aquela espera tinha um gosto azedo, quase intragável e forte. Talvez o amor tenha gosto de iogurte quando passa da validade. Talvez um amor de tantas rugas quanto aquele que estava em mim tenha um gosto mais adocicado ou menos azedo, se aproximando até de um sabor agradável, caso as circunstâncias fossem diferentes.  Talvez o amor tivesse um gosto de todas as coisas que eu gosto, e seja assim pra todo mundo. Comecei a pensar nas coisas que eu gosto e me dei conta que gosto de tomar café em copo, e de cheiro de plástico novo, mas logo essas coisas banais me levaram a você, pois sempre fora assim... Não importa o quão banal, idiota, sujo e indescritível seja o pensamento, ele sempre me guiara pra algo que, em algum número bem pequeno, tinha alguma probabilidade de  isso fazer parte do teu dia, e aí as portas pra me imaginar contigo eram abertas, e o esforço pra fechar era tanto, que eu preferia apenas assassinar o tempo e os dias com a cabeça lá em você. E cá estava eu. O parque, era o mesmo, eu era a mesma, e ele também. Éramos?
 


Eu não conseguia imaginar o que se daria após aquele encontro. Durante alguns momentos, a cabeça estava planando sobre as nuvens, mais ou menos nuns 5 anos atrás, e de repente, a turbulência se aproximou, e ai de mim, de você e de quem mais estivesse disposto a assistir o final daquela história.  Afinal, era a história que eu sempre quis contar,e uma história sem drama, não é história. Eu repetia como um mantra, na esperança de que, o intervalo de  5 anos se tornasse apenas uma breve pausa do nosso conto de fadas, e ao passar os maus bocados, estaríamos alforriados. Eu e meu príncipe.
 

É claro que, meu príncipe não tinha um cavalo branco, e nem um castelo com um fosso em volta, pra zelar por nosso amor e proteger de outros males como dragões, bruxas malvadas, doenças tropicais e ex-amores psicóticos. Meu príncipe tinha exatamente a quantidade de cabelos necessários  na cabeça para me fazer feliz, naquele penteado muito moderninho, seu castelo se resumia a um apartamento no Jabaquara, ainda na companhia de seus pais, e sem nenhum fosso em volta. Ele permanecia cortês, como manda o figurino. Eu esperava encontrar ele e contar tudo isso. Contar como a galáxia se expandia quando nós estávamos juntos, e todos planetas que nós conhecemos, e até os mais anônimos,  encontravam uma perfeita sincronia cada um em sua órbita, ditando as regras daqueles astros em algum lugar lá em cima, e que provavelmente isso não teria nenhum efeito em qualquer evento terreno, e muito menos em  nós dois, mas que deveria ser tão bonito quanto eu e ele. E eis que depois do primeiro contato, me vi parada no meio do Ibirapuera com a sensação de ter encontrado a mim mesma.
A culpa não era dele. Ou talvez fosse, já não me interessava mais. A reflexão necessária para a compreensão dos fatos era tanta, que quando ele perguntou “Quer beber alguma coisa?”, a resposta foi instantânea “Um vinho, uma vodka, uma cerveja. Ou os três juntos!”. O que ele tinha, e onde ele largou isso tudo? Meu Deus, onde se escondeu aquela utopia de uma vida monogâmica em que eu me vejo perdidamente apaixonada por você, pelo seus beijos e pelo seu jeito –que a propósito nem me atraía mais - prepotente ?  Estava eu perdidamente envolta  por um príncipe criado por mim mesma?

Me senti envelhecendo 50 anos. Afinal, perdi 5 anos presa a um romance que sequer foi o primeiro, e jamais poderia ter sido o último. A ilusão de que a vida nunca mais seria a mesma depois de você me fez faltar a tantos ensaios de novos amores, me fez perder tantas chuvas de verão e tantos beijos de fim de tarde. E o que você tinha, querido? E onde e quando você perdeu aquela máscara apaixonante, que me deixava aos seus pés? Por favor, traga-a de volta! Eu preciso viver aquele amor novamente, tire esse sabor intragável da minha boca, e me mostre o que você tem de melhor! Algeme minhas mãos à canetas que somente escreverão cartas e poemas a ti, sequestre meus pensamentos e rimas nada categóricas de forma que estes também só retomem a mon amour, e transforme todos os segundos em uma única espera novamente, aquela que me levaria até você... Seria tarde demais pra isso?
Não era o que você tinha, e se perdeu. Era o que faltava em mim. E seria clichê demais dizer que faltava maturidade, mas faltava também a capacidade distinguir um amor de verdade de um casinho inesquecível. A sensação de amores perdidos, e ensaios amorosos mal feitos que poderiam ter tido muitos finais felizes mas que ficaram pra depois, culpando sempre a este que sequer teve final. Fui embora levando comigo a sensação de ter amado demais (pra porra nenhuma), e você levando suas ideias baratas e pró-modernismo e defesa dos pensamentos comuns que encontramos em qualquer esquina, em qualquer jovem pseudo-intelecutualóide atualmente.

Fui embora, com a certeza de que passaria uma vida ao seu lado, mas não esta.
 Se este era mesmo o amor, ficou perdido em algum lugar entre eu e aquele fosso invisível que separava meu castelo do resto do mundo, ou cansou de ficar preso ali, junto comigo, e pegou a primeira estrada que livrava ele daqueles livros empoeirados de poesia infantil, preferindo alguma aventura melhor, como atravessar os sete portões do inferno, ou decidir o que é mais precioso e maior que si mesmo. E lá estava eu, questionando quando o amor me deixou, sem ao menos virar a cabeça pra ver que ele estava indo embora, pensando em coisas triviais, romances fogo de palha, e no iogurte vencido na última sexta-feira na geladeira, que agora se tornavam coisas tão mais importantes que você, e o nosso reencontro.

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