quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Aquela conversa

Ela me disse. Fria, seca, apenas disse. Com aquele sorriso que me faria levantar da cama às 3 da manhã, e me fez.
 - Ligue pra sua namorada. Está na hora de vocês terem aquela conversa. - Ela falou deitada na cama, enquanto acendia um cigarro, e cobria seu corpo com um fino lençol, me olhando como expectador daquela cena. - Apenas diga seus motivos, e diga que não foi culpa dela. Mas que você encontrou outra pessoa. 

Como eu poderia ter encontrado outra pessoa, se eu nem estava procurando?

 - Diga pra ela não ficar triste, chateada ou revoltada. Mesmo que você saiba que é inevitável. Ela ficará brava, destruída, deprimida... e você dirá que sua intenção nunca foi magoá-la. E que o coração dela só estará curado, quando ela aprender a amar novamente, e não esqueça de dizer, que isso pode não fazer sentido agora, mas que vocês ainda serão amigos. E então você a solta nesse abismo do nada, delicadamente, pelas pontas dos dedos. Não diga a ela que eu te dou algo, que você nem sabia que sentia falta. Nem tente explicar, o quão diferente é quando nós nos beijamos. E diga mais uma vez, apenas para reforçar, que o coração dela só estará curado, quando ela amar novamente. Ligue pra sua namorada, é hora de vocês terem essa conversa.
   Ela falou, como quem já havia falado isso muitas e muitas vezes. Como se fosse experiente em fins de relacionamentos, e com um tom de quem sabe tanto o que faz, quanto um professor de matemática pós-graduado em alguma universidade de ponta, ensinando a um aluno, uma conta de subtrair. O que já era de se esperar, uma mulher como ela, com certeza, já esteve muitas vezes ligando, e tendo tal conversa, e depois acenderia seu cigarro, como fez antes. 

Caminharia, naturalmente, como se deitou naquela cama cinco minutos antes. E continuaria sua vida, em busca de outros lugares a visitar, onde espalharia suas frases contra intelectualóides superficiais, exalando aquele ar blasé, e no fim de tudo, se mostraria alguém de alma rasa, que está sempre a procura de outro alguém - quem quer que fosse -  para conquistar, e ligar pra ter tal conversa. 
Aquela conversa que destruiria o dia, a semana, o mês e até um ano de alguém, mas que pra ela, seria normal. Rotineiro.  
Tomaria uma cerveja, um conhaque, um café, que fosse. E engoliria junto com o líquido toda mágoa que restou. Como se fosse professora: de finais.

- Você já falou isso muitas vezes?

- Nunca. Mas já ouvi o suficiente.

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